quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Testemunhas de Jeová e a questão do sangue - Parte II

Novos Entendimentos

Embora fossem comuns durante as décadas de 1950 e 1960, as transfusões de sangue total são hoje na verdade bem mais raras. Na grande maioria dos casos, são dados aos pacientes apenas os componentes do sangue específicos que precisa. Na grande maioria dos casos, quando uma Testemunha é confrontada com a necessidade de uma transfusão de sangue, a questão não é o uso de sangue total, mas o uso de algum componente principal do sangue ou hemocomponente.

Em 1977, a transfusão de sangue é considerada um transplante de tecido líquido. Para contornar as evidências de que uma transfusão de sangue não é o mesmo que comer ou beber sangue, a Sociedade Torre de Vigia (dos EUA) substitui o termo "nutrir" por "sustentar a vida" nas suas publicações. Os pais Testemunhas são encorajados a rejeitar as transfusões de sangue para seus filhos menores de idade. (As Testemunhas de Jeová e a Questão do Sangue, 1977, pág. 41)

Em 1978, o Corpo Governante reafirma a proibição de transfusões de sangue, total ou de seus componentes principais. É proibido o uso do concentrado de hemácias (eritrócitos), de plaquetas e de plasma fresco. Aceitam fluidos isentos de sangue para expansores do volume do plasma. O uso de hemoderivados é difinitivamente autorizado - albumina, imunoglobulinas e factores de coagulação. (A Sentinela de 1/12/1978, pág. 29; "Testemunhas de Jeová - O desafio cirúrgico/ético" por Dr. J. Lowell Dixon e Marvin Gene Smalley, Jornal da Associação Médica Americana de 27/11/1981, Vol. 246, n.º 21, pág. 2471-2, reimpresso no Despertai! de 22/6/1982, pág. 25-7; Raciocínios à Base das Escrituras, 1985, pág. 345-6; Como o Sangue pode Salvar a Sua Vida?, 1990, pág. 28, 15; Declaração/Procuração sobre Cuidados de Saúde) Os riscos associados as transfusões de sangue são usados para dar credibilidade à Sua posição religiosa. (A Sentinela de 15/6/1985, pág. 30)

São proibidas às Testemunhas de Jeová o uso de técnicas de colecta ou de hemodiluição intra-operatórias que envolva armazenar sangue autólogo para ser reposto. O reaproveitamento de sangue autólogo intra-operatório é permitido, se a circulação extra-corpórea for ininterrupta. Isso é encarado como uma extensão do sistema circulatório do paciente. Aceitam o uso do equipamento de hemodiluição, “cell-saver” – recuperação celular e outros similares, se na preparação dos mesmos não for usado produtos sanguíneos. (A Sentinela de 15/6/1978, pág. 29-31; Unidos na Adoração do Único Deus Verdadeiro, 1983, no Cap. 20 § 8; A Sentinela de 1/3/1989, pág. 30-1; Como Pode o Sangue Salvar a sua Vida?, 1990, pág. 13-5) Inicialmente objectável, a hemodiluição induzida é aceitável. (Despertai! de 22/6/1982, pág. 25; de 22/3/1983, pág. 16; A Sentinela de 1/3/1989, pág. 30-1; Como pode o Sangue salvar Sua Vida?, 1990, pág. 3-5, 15)

Ensinam que o actual entendimento religioso "não proíbe de modo absoluto o uso de componentes, como a albumina, as imunoglobulinas e os preparados para hemofílicos; cabe a cada Testemunha decidir individualmente se deve aceitar a esses". (A Sentinela de 1/12/1978, pág. 29; Como o Sangue pode Salvar a Sua Vida?, 1990, pág. 28;A Sentinela de 1/6/1990, pág. 30-1) Omitem que o Corpo Governante já proibiu biblicamente o uso de hemoderivados - albumina, imunoglobulinas e factores de coagulação. Os hemoderivados, para os quais não há substitutos para as suas funções, são extraídos de sangue coletado de muitos doadores de sangue por aférese.

A partir de 1980, o Corpo Governante passou a formar centenas de voluntários para servirem como membros das Comissões de Ligação Hospitalar (CLH), arranjo para Testemunhas batizadas e seus filhos menores, bem como os publicadores de congregação não-batizados. Além disso, criou o Serviço de Informação Hospitalar. A religião tem se envolvido no pioneirismo das terapias médicas, medicamentos e técnicas cirúrgicas isentos de sangue.

Em 1982, o Corpo Governante introduz na doutrina do sangue - pela primeira vez - o conceito de "fracções maiores" [componentes principais do sangue] e "fracções menores" [os hemoderivados]. (Despertai! de 22/12/1982 e de 22/10/1990; A Sentinela de 1/6/1990, pág. 30-1) A transferência natural das "fracções menores" através da barreira placentária, são encaradas pela liderança da religião como justificativa para permitir o uso de hemoderivados. Contrariando o que anteriormente haviam ensinado, admitiram que "não podemos afirmar que a ordem de se abster de sangue incluiu os hemoderivados. A Bíblia não fornece orientações específicas!" (Suplemento de Nosso Ministério do Reino de 3/2007, pág. 3)

Em 1984, é permitido às Testemunhas de Jeová fazer transplante da medula óssea [ vulgo "tutano" ], desde que não envolva transfusões de sangue - total ou nos seus componentes principais. O transplante da medula óssea, o mesmo que transplante de células-tronco hematopoiéticas, é considerado uma decisão pessoal. (A Sentinela de 15/11/1984, pág. 31-2) Em 1997, a doação de sangue do cordão umbilical e placentário é proibida religiosamente. (A Sentinela de 1/2/1997)

Em 1989, é aprovado o uso médico da Eritropoetina (EPO) humana recombinante. Até 1989, a deficiência da hormona Eritropoetina só era tratada com transfusão de sangue e esteróides anabolizantes. A EPO é secretada principalmente pelo rim de adulto e fígado do feto, atuando nas células-tronco eritróides da medula óssea para estimular a produção das hemácias. (Enciclopédia da Saúde, Vol. 2, pág. 102-3, 2005, Marina Editores, Setúbal) .
Em 1987, as publicações da Sociedade Torre de Vigia (dos EUA) chegaram até mesmo ao ponto de encorajar os funcionários hospitalares que são Testemunhas de Jeová a quebrarem a confidencialidade médica [isto é crime de quebra de segredo profissional], se ficarem sabendo que uma Testemunha aceitou transfusão de sangue em segredo. ("Tempo para falar - quando?" na A Sentinela de 1/9/1987, pág. 12).

Em 1994, o Corpo Governante admitiu em suas publicações que a aderência à Sua doutrina do sangue custou a vida a milhares de adeptos, nomeadamente crianças e jovens menores de idade. Ornamentando a capa da Despertai! de 22/5/1994 estão fotos de 26 jovens, com idades até os 17 anos, com o seguinte titulo: "Jovens que colocaram Deus em primeiro lugar". Os pais Testemunhas são exortados a doutrinar seus filhos sobre a Questão do Sangue e a treiná-los como devem responder a médicos, juízes e outros.

Em 2000, é publicado o uso de hemoderivados dos componentes principais do sangue, é um assunto de consciência pessoal, desde que fraccionados. O uso dos componentes principais do sangue continua proibido. (A Sentinela de 15/6/2000, pág. 29-31; A Sentinela de 15/10/2000, pág. 30-1) Passou a ser aceitável um número maior de procedimentos médicos envolvendo as transfusões de sangue autólogas, apesar de ser proibido o estoque do próprio sangue. (A Sentinela de 15/8/2000, pág. 30-1) Esses fatos foram noticiados no Times de 14/6/2000, no artigo de Ruth Gledhill. Em 2002, o livro Adore o Único Deus Verdadeiro - uma reimpressão revista do livro Unidos na Adoração do Único Deus Verdadeiro publicado em 1983, tem três capítulos removidos. Um deles era justamente o Cap. 20: "A Vida e o Sangue - Trata-os Como Sagrados?" Segundo os críticos, o actual Corpo Governante está a distanciar-se dos entendimentos anteriores.

de sangue total ou de seus componentes principais passou à categoria de actos não passíveis de desassociação [isto é, não será excomungado religiosamente e ostracizado] congregacional. Actualmente, na óptica da religião a Testemunha está a dissociar da religião. (A Sentinela de 15/6/2004; Carta da Sociedade aos membros das CLH de 16/4/2004). Todo aquele que se dissocia, para todos os efeitos práticos, é o mesmo que ser desassociado. Quem discordar desta doutrina e tentar explicar o seu ponto de vista a outros, será desassociado por apostasia e por "criar divisões". (Prestai Atenção a Vós Mesmos e a Todo o Rebanho, 1991, pág. 94).

A ordem bíblica de se abster de sangue também incluí suas fracções menores [isto é, os hemoderivados]? Responde o suplemento do Nosso Ministério do Reino de 3/2007: "Não podemos afirmar isso [mas isso já foi afirmado várias vezes]. A Bíblia não fornece orientações especificas [na realidade, a Bíblia nunca as forneceu] sobre frações [coletadas de milhares de dadores de sangue não-Testemunhas]. Cada cristão deve decidir de forma consciente se aceitará ou não. ... Você deve tomar suas próprias decisões, e não se basear na consciência de outra pessoa. [Deverá deixar bem claro que não é uma imposição da liderança da religião. Neste assunto, a liderança da religião não tem quaisquer responsabilidade cível ou criminal.] Da mesma forma, ninguém [na congregação] deve criticar as decisões de outro irmão [isto é, não será considerado pelos anciãos como um membro não-exemplar e nem será alvo de acção judicativa]." As Testemunhas são informadas que não devem usar o termo "tratamentos alternativos à transfusão de sangue". Em vez disso, devem mencionar "procedimentos médicos sem transfusão de sangue".

CONTINUA... 

Testemunhas de Jeová e a questão do sangue - Parte I

 

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